Sempre me perguntei por que nós vamos simbora daqui antes da maioria dos objetos da nossa casa. Olhava praquele móvel horroroso na casa de minha mãe, de madeira, que segurava a televisão. Ficava pensando que a qualquer momento, por algum infortúnio da vida, eu poderia não mais existir em corpo físico, e aquela joça estaria lá por pelo menos mais algumas décadas.
Essa brevidade e fragilidade da nossa vida carnal me incomoda. Uma pessoa que você ama pode a qualquer momento deixar de existir, enquanto um objeto inanimado perdura... qual é o sentido disso?
Talvez essa procura por um certo significado de justiça tenha feito com que tenhamos criado religiões e crenças que nos digam que há uma vida após a morte, pra que a gente não pense muito nisso em vida e consiga seguir em frente.
Como eu não tenho certeza nenhuma de que vai ter algo depois da morte, eu prefiro me dedicar a viver meus momentos com as pessoas que eu amo e que quero poder estar o máximo de tempo possível juntos antes que seja tarde. E quem vive tentando se enganar com a "certeza" da infinitude, acaba se esquecendo que uma hora todos vamos partir de certo, e que os objetos que eles tanto desejam e admiram ficam aqui, após nossa partida.
É justo? Não sei. Mas é a vida...
As Crônicas Anacrônicas
sexta-feira, 8 de abril de 2016
O Palavrão
Todo mundo fala palavrão. O palavrão nos une. Ele nos faz nos sentirmos vivos de novo. Com o palavrão você ganha intimidade com as pessoas de bem que, por ventura, venham a cruzar o seu caminho. Sem o seu uso você se transforma em uma pessoa esnobe e nojenta, a qual merece apenas desprezo de seus semelhantes.
Agora responda: andando pela rua você vê um jovem andando de bicicleta quase atropelando uma senhora de idade na calçada e diz para um cidadão ao seu lado "nossa, o cara quase acertou aquela senhora"? Se você falar assim, o cidadão não dará continuidade à conversa, respondendo talvez apenas "sim, que absurdo".
Agora, se você fala assim:
- Caralho, o cara quase acertou a porra da velha! Com certeza o cidadão ao seu lado responderá:
- Que filho da puta!
E assim poderão iniciar uma longa conversa, sobre os mais variados tópicos, sempre utilizando-se dessa excelente ferramenta linguística que é o palavrão.
Imagine um grupo de amigos que conversem sem apelar para o seu uso. Não seria um grupo de amigos.
Agora responda: andando pela rua você vê um jovem andando de bicicleta quase atropelando uma senhora de idade na calçada e diz para um cidadão ao seu lado "nossa, o cara quase acertou aquela senhora"? Se você falar assim, o cidadão não dará continuidade à conversa, respondendo talvez apenas "sim, que absurdo".
Agora, se você fala assim:
- Caralho, o cara quase acertou a porra da velha! Com certeza o cidadão ao seu lado responderá:
- Que filho da puta!
E assim poderão iniciar uma longa conversa, sobre os mais variados tópicos, sempre utilizando-se dessa excelente ferramenta linguística que é o palavrão.
Imagine um grupo de amigos que conversem sem apelar para o seu uso. Não seria um grupo de amigos.
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