sexta-feira, 8 de abril de 2016

A injusta vida dos objetos

Sempre me perguntei por que nós vamos simbora daqui antes da maioria dos objetos da nossa casa. Olhava praquele móvel horroroso na casa de minha mãe, de madeira, que segurava a televisão. Ficava pensando que a qualquer momento, por algum infortúnio da vida, eu poderia não mais existir em corpo físico, e aquela joça estaria lá por pelo menos mais algumas décadas.

Essa brevidade e fragilidade da nossa vida carnal me incomoda. Uma pessoa que você ama pode a qualquer momento deixar de existir, enquanto um objeto inanimado perdura... qual é o sentido disso?

Talvez essa procura por um certo significado de justiça tenha feito com que tenhamos criado religiões e crenças que nos digam que há uma vida após a morte, pra que a gente não pense muito nisso em vida e consiga seguir em frente.

Como eu não tenho certeza nenhuma de que vai ter algo depois da morte, eu prefiro me dedicar a viver meus momentos com as pessoas que eu amo e que quero poder estar o máximo de tempo possível juntos antes que seja tarde. E quem vive tentando se enganar com a "certeza" da infinitude, acaba se esquecendo que uma hora todos vamos partir de certo, e que os objetos que eles tanto desejam e admiram ficam aqui, após nossa partida.

É justo? Não sei. Mas é a vida...

O Palavrão

Todo mundo fala palavrão. O palavrão nos une. Ele nos faz nos sentirmos vivos de novo. Com o palavrão você ganha intimidade com as pessoas de bem que, por ventura, venham a cruzar o seu caminho. Sem o seu uso você se transforma em uma pessoa esnobe e nojenta, a qual merece apenas desprezo de seus semelhantes.

Agora responda: andando pela rua você vê um jovem andando de bicicleta quase atropelando uma senhora de idade na calçada e diz para um cidadão ao seu lado "nossa, o cara quase acertou aquela senhora"? Se você falar assim, o cidadão não dará continuidade à conversa, respondendo talvez apenas "sim, que absurdo".

Agora, se você fala assim:
- Caralho, o cara quase acertou a porra da velha! Com certeza o cidadão ao seu lado responderá:
- Que filho da puta!
E assim poderão iniciar uma longa conversa, sobre os mais variados tópicos, sempre utilizando-se dessa excelente ferramenta linguística que é o palavrão.

Imagine um grupo de amigos que conversem sem apelar para o seu uso. Não seria um grupo de amigos.